domingo, 4 de janeiro de 2009

Arquivos Históricos III


Salvador, 8 de Junho de 2007


Sinto-me como que em outra dimensão, um turbilhão de sentimentos agitam minhas entranhas quando, ao som do Adagio de Albinoni, vislumbro o nascer da lua, numa cor quase púrpura... surgindo das trevas da noite no horizonte. Ela surge linda e hipnotizante, me fazendo transcender por alguns minutos a algum lugar desconhecido, onde só o que importa é o ser sinestésico.

Desloco-me para um possível futuro, onde encontro-me em um momento de reverência... um funeral... de uma pessoa que amo com um amor tremendo, um amor ágape.

A melodia soa enquanto vejo o caixão descendo ao sepulcro, branco... Coberto com lindas flores... O rosto pálido... Sorriso sereno... Surge um grande aperto em meu peito, e um vazio... Um vácuo... Como se meu coração houvesse sido arrebatado... Restando apenas o vazio.

Meus olhos lacrimejam ao sentir fisicamente a dor de uma perda, perda de uma pessoa querida... o caixão desce lentamente... a paisagem é de desconsolo.

Ao sentir os olhos cheios de lágrimas, embalado pelo lindo Adágio, volto a olhar pela janela o satélite da terra , agora numa tonalidade alaranjada... Subindo lentamente na escuridão... Percebo então que a cena fúnebre fora criada pela imaginação... Talvez uma visão de um futuro... Prefiro crer que seja fruto da mente, devido a um pedido especial da pessoa que na progressão sucumbia na terra dentro de um caixão, que tal melodia fosse o tema do seu funeral.

Experimento diversas sensações inenarráveis... Enquanto a lua sobe e torna-se amarelada, o nó contido em meu tórax se desfaz.... O vazio some a medida que a lua clareia... A lua no seu quarto minguante lembra um lindo e largo sorriso, agora numa tonalidade cristalina... Imponente... Tomando seu lugar de rainha da noite... Iluminando as trevas e me fazendo sentir medíocre diante do seu esplendor.

Fico a contemplar seu sorriso luminescente sem nem uma palavra.... Nem um pensamento... Apenas a reverência e agora o preenchimento no meu peito de um sentimento de felicidade, de gozo, de êxtase, pareço estar em estágio Alfa... Ainda flutuando em uma realidade espiritual pouco compreendida.

Já não a vejo mais pela minha janela, está se dirigindo ao cume do céu negro... De forma repentina sou arrebatado de volta ao meu corpo e surge um pensamento que me traz humildade espiritual...

Ela... Linda... Parecendo um cristal... Esplendorosa... A dama da noite ilumina a tudo e a todos, embora falte algo.... O outro quarto da lua para que ela esteja cheia... Completa!

Observando-a neste estado lembro-me que também me falta algo para que me sinta completo.... Existe um vazio que , assim como na lua, em algumas fases é revelado, provavelmente este vazio seja originado da abstinência química dos compostos liberados naturalmente quando amamos verdadeiramente, aquele frio na barriga... A ansiedade... A saudade... Percebo que tal falta se faz necessária... assim posso sonhar... esperar... sobra espaço para observar as coisas simples e rotineiras, como o nascer da lua... O acordar... O respirar... O abraço apertado... O olho no olho... O beijo... Tais coisas foram feitas fúteis por nós... Humanos medíocres, sem amor, sem tempo e sem empatia.

Oxalá que em todos surja um vazio, pois neste vazio a razão cede e a sinestesia aumenta, tornando-nos sensíveis ao ponto enxergar que tempo e espaço são inconstantes... e que apenas o passado não pode ser alterado, sendo-nos permitido apenas visitar como espectadores.

Na tristeza e na solidão somos solidários, pensamos no próximo, sentimos uma falta... Talvez a falta de doar mais amor incondicional, de ser mais empáticos.

Que possamos ser como a lua minguante, que apesar de não estar completa, ilumina a todos e aguarda paciente o tempo certo do que a completa, e enquanto espera, doa. Que possamos ser filtrados a cada dia como a cor da lua é filtrada a cada instante, a medida que evolui no céu, iluminando cada vez mais, passando do quase púrpura ao branco-azulado.


Aguardo o próximo nascer da lua, púrpura... dilatada... e linda!




Igor Monteiro.

4 comentários:

  1. Meu Adágio.... Lindo, lindo, lindo!!! Amo esse texto desda primeira vez que li.
    Obrigada pelo carinho, amei esse presente.
    E não esqueça de cantar adágio no meu enterro :)

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  2. diario da loucura, esse blog nao poderia ter outro nome. descrever bem sentimentos e sensações é uma tarefa dificil, tem que ser realmente louco rsrs

    no mais acho que esse enterro pode nao ser uma pessoa...

    axe

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  3. Este e o Camiho da sabedoria parabens ja estou nele a muito tempo.

    Qundo eu me exprsso na critica,e na discriminacao e uma forma de eu conhecer as pessoas.

    Nao sou nem quero ser discriminador do universo
    Parabens pleo alinhamneto das palavra>
    Conde Delfim

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  4. Que lindo meu filho!!!
    Parabéns viu... você é sencível e as pessoas sencíveis são as que realmente percebem o verdadeiro sentido da "VIDA"!!!
    Te amo viu!!!
    Beijo no seu coração!

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